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Só Hoje
Dia do beijo (13 de abril)
Andorinhas do seu olhar
Eu estava do lado da janela sentada olhando através dos vidros escuros as andorinhas voando ansiosas e desorientadas e de repente, o som arranhado que o giz fazia no quadro me levou de volta às explicações incoerentes que só embaralhavam ainda mais os meus pensamentos. Os números se transformavam em novas andorinhas ainda ansiosas e desorientadas. Mas dessa vez eu estava entregue às lembranças. Ele não gostava que eu me sentasse sozinha, inquieta e pensativa. Me mostre seu sorriso! Mas dessa vez eu estava ali sentada sozinha, inquieta e pensativa e ele viu e não falou nada.
Ele queria que eu fosse até ele, mas eu falei que não. Sabia que ele queria que eu fosse até ele. Mas insisti a mim mesma que não. Ele sorriu desviando seu rosto e eu também sorri. E então ele queria me olhar mais uma vez e saiu dos pensamentos, voltou à aula. Eu estava sozinha, inquieta e ele não falou nada.
Enxerguei-o conversando com a outra que apenas balançou a cabeça e agora eles estavam rindo juntos, assim, um do outro. As andorinhas voando lá fora.
Eu estava olhando para as tantas andorinhas. Nós agíamos como duas, ansiosas e desorientadas.
Vendo minha distração, a professora que também parecida desorientada aos meus olhos, pediu a mim que lesse os dois últimos períodos de um texto que nem eu nem ele acompanhávamos, tenho certeza.
“Você não pode calcular o tanto que eu gosto de você. Eu gosto demais de você, demais, demais.”
Fechei os olhos, respirei fundo e olhei novamente em sua direção. Nada de olhares. Ele me respondeu com um sorriso e lá estava eu a me perder novamente com as andorinhas voando ansiosas e desorientadas.
Romeo & Juliet
“Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora? Ah, ela ensina as luzes a brilhar! Parece pender da face da noite como um brinco precioso da orelha de um etíope! Ela é bela demais pra ser amada e pura demais pra esse mundo! Como uma pomba branca entre corvos, ela surge em meio às amigas. Ao final da dança, tentarei tocar sua mão, pra assim purificar a minha. Meu coração amou até agora? Não, juram meus olhos. Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza.”
Romeo e Julieta
A Caveira é um símbolo antigo para representar a mudança. Mais especificamente, uma grande mudança na vida, associada com a morte, que é a maior mudança de todas. A caveira significa transformação, novo ciclo. Em algumas culturas também significa poder, força ou um símbolo de invencibilidade ou perigo. Mostra que todos somos iguais por dentro, não temos cor, sexo, classe social ou preferências.
Vendo o vídeo me lembrei de um desenho que fiz baseado em uma imagem que encontrei. O desenho representa o amor entre os pássaros e por isso, adicionei à imagem um coração preto e branco.
A Very Long Engagement (Beautiful French Movie)
Décadas da minha vida
COMO SE FORA UM CORAÇÃO POSTIÇO
Rubem Braga
Nasceu, na doce Budapeste, um menino com o coração fora do peito. Porém – diz um Dr. Mereje – não foi o primeiro. Em São Paulo, há sete anos, nasceu também uma criança assim. “Tinha o coração fora do peito, como se fora um coração postiço.”
Como se fora um coração postiço… O menino paulista viveu quatro horas. Vamos supor que tenha nascido às cinco horas. Cinco horas! Cinco horas! Um meu amigo, por nome Carlos, diria:
-… a hora em que os bares fecham e todas as vitudes se negam….
Madrugada paulista. Boceja na rua o último cidadão que passou a noite inteira fazendo esforço para ser boêmio. Há uma esperança de bonde em todos os postes. Os sinais das esquinas – vermelhos, amarelos, verdes – verdes, amarelos, vermelhos, borram o ar de amarelo, de verde, de vermelho. Os olhos inquietos da madrugada. Frio. Um homem qualquer, parado por acaso no Viaduto do Chá, contempla lá embaixo umas pobres árvores que ninguém jamais nunca contemplou. Humildes pés de manacá, lá embaixo. Pouquinhas flores roxas e brancas. Humildes manacás, em fila, pequenos, tristes, artificiais. As esquinas piscam. O olho vermelho do sinal sonolento, tonto na cerração, pede um poema que ninguém faz. Apitos lá longe. Passam homens de cara lavada, pobres, com embrulhos de jornais debaixo do braço. Esta velha mulher que vai andando pensa em outras madrugadas. Nasceu, em uma casa distante, em um subúrbio adormecido, um menino com o coração fora do peito. Ainda é noite dentro do quarto fechado, abafado, com a lâmpada acesa, gente suada. Menino do coração fora do peito, você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.
Seis horas. O coração fora do peito bae docemente. Sete horas – o coração bate… Oito horas – que sol claro, que barulho na rua! – o coração bate…
Nove horas – morreu o menino do coração fora do peito. Fez bem em morrer, menino. O Dr. Mereje resmunga: “Filho de pais alcoólatras e sifilíticos…” Deixe falar o Dr. Mereje. Ele é um médico, você é o menino do coração fora do peito. Está morto. Os “pais alcoólatras e sifilíticos” fazem o enterro banal do anjinho suburbano. Mas que anjinho engraçado! – diz Nossa Senhora da Penha. O anjinho está no céu. Está no limbo, com o coração fora do peito. Os outros anjinhos olham espantados. O que é isso, seu paulista? Mas o menino do coração fora do peito está se rindo. Não responde nada. Podia contar a sua história: “o Dr. Mereje disse que…” – mas não conta. Está rindo, mas está triste. Os anjinhos todos querem saber. Então o menino diz:
– Ora, pinhões! Eu nasci com o coração fora do peito. Queria que ele batesse ao ar livre, ao sol, à chuva. Queria que ele batesse livre, bem na vista de toda a gente, dos homens, das moças. Queria que ele vivesse à luz, ao vento, que batesse a descoberto, fora da prisão, da escuridão do peito. Que batesse como uma rosa que o vento balança…
Os anjinhos todos do limbo perguntaram:
– Mas então, paulistinha do coração fora do peito, pra que é que você foi morrer?
O anjinho respondeu:
– Eu vi que não tinha jeito. Lá embaixo todo mundo carrega o coração dentro do peito. Bem escondido, no escuro, com paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne cobrindo. O coração trabalha sem ninguém ver. Se ele ficar fora do peito é logo ferido e morto, não tem defesa.
Os anjinhos todos do limbo estavam com os olhos espantados. O paulistinha foi falando:
– E às vezes, minha gente, tem paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne, e no fim disso tudo, lá no fundo do peito, no escuro, não tem nada, não tem coração nenhum. E quando eu nasci, o Dr. Mereje olhou meu coração livre, batendo, feito uma rosa que balança ao vento, e disse, sem saber o que dizia: “parece um coração postiço”. Os homens todos, minha gente, são assim como o Dr. Mereje.
Os anjinhos estavam cada vez mais espantados. Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho de cinema e aí, foi, acabou a história. Porém o menino estava aborrecido, foi dormir. Até agora, ele está dormindo. Deixa o anjinho dormir sono sossegado, Dr. Mereje!
Vida
Ponto final
As horas passam e com o passar das horas eu sei onde você deve estar. Não sei o que está fazendo, no que está pensando nem com quem está conversando. E com o passar das horas percebo também que não é o suficiente. Mereço mais do que isso. Já abri todas as cartas que você teria de ter recebido. Ainda não coloquei os pontos finais e os parênteses que faltam para lhe explicar alguns poucos detalhes que deixou aqui comigo. Pra mim chega de cartas, eu quero abraços. E por mais que eu não saiba a continuação dessa história mais sem conteúdo eu continuo tentando planejar.
As minhas cartas podem esclarecer alguns questionamentos, algumas noites sem dormir, mas não podem me trazer suas palavras. Elas são minhas e ponto final. E acaba aí. Mas eu quero mais, eu quero reticências. Eu quero brincar com você como eu brinco com as palavras, quero sentir o cheiro do seu perfume na folha em branco. Preciso de você pra continuar. Você pode até me dizer adeus mais uma vez, mas não existe adeus que nos torne distante, pelo menos não agora. Nos veremos em breve, em uma segunda-feira de manhã.
Inspiração:
“Não faço idéia de onde está no mundo. Mas sei que perdi o direito de saber há muito tempo. Não importa quantos anos se passem, sei que uma coisa continuará verdadeira como sempre: nos vemos em breve.”
Dear John