Ele
– É ela?
-Não tenho certeza.
-É ela?
-Não.
-Talvez esta daqui?
-Nada.
-Que tal aquela sentada no chão com as pernas cruzadas? Parece sorrir, mas não tenho certeza quanto sua felicidade, seus olhos parecem estar tristes.
-Como sabe? Deve está apenas observando a movimentação. Não consigo ver nada em seus olhos, muito menos em seu sorriso. Onde? Não vejo nada!
-Você pode esconder muitas coisas atrás de um sorriso, mas nunca de um olhar. Impossível não enxergar… Olha aqueles lábios carnudos, cabelos ondulados que descem pelos seus ombros e realçam seu tom de pele. Observe a luz que reflete no negro dos fios.
O outro não responde e os dois a observam pelo resto do dia. Ele a vê iluminada, o outro não tem olhos para enxergar tal beleza.
Passados meses, Ele, sentado observando o mar, associa as ondas aos cabelos de Ela, o avanço da maré aos seus lábios e a cor esverdeada ao seu tom de pele.
Ela
-Que lindo este mar! À minha frente tem o mundo… aqui posso me ligar a ele. Aqui é meu lugar. Essa areia áspera, esse mar turbulento, mas e essas cores pastéis? Que lindo…
O mar parecia falar com Ela, Ela parecia falar com o mar, mas e o resto do mundo?
-À minha frente! Bem à minha frente! Eu estou encarando o mundo pacificamente! Como nunca percebi? Isso me lembra o amor. Leva tempos para perceber e distâncias para conhecer… Podemos nunca nos encontrar! Impossível! Aguentei textura, aguentei umidade, mas nunca percebi o porque de estar mudando. Agora eu sinto! Estou apaixonada pelo mar.
A maré aumentou, mas Ela não ligou. Ficou onde estava, queria agora que o mar chegasse até ela e não que ela alcançasse o mar.
O sol se pôs, as nuvens chegaram, a chuva até já passou, mas Ela continua lá, estática, imóvel, com um sorriso discreto e um olhar triste. O sorriso à proximidade e o olhar à distância.
-Onde está Ele?
-Será que tão longe daqui?
-À frente?
-Ao meu lado?
-Olhando minhas ondas! Quem sabe…
-É, ele deve saber onde estou.